O avanço da Ômicron e seus impactos no turismo e economia
Executivos de empresas de diferentes setores e portes econômicos falam sobre como estão lidando com a onda de novos casos e os reflexos nos negócios. Afinal, como a variante impactou o crescimento econômico no Brasil?
Depois de uma relativa “calmaria” na pandemia, ainda que com um final de ano embalado de preocupação com o impacto das festas de Natal e Réveillon na propagação do novo coronavírus, o Brasil enfrenta uma explosão de casos positivos da COVID-19. A variante Ômicron reacendeu as incertezas e colocou vários setores em alerta, principalmente o turismo. A alta disseminação do vírus já causou cancelamentos de eventos importantes, entre eles, o carnaval.
Um relatório divulgado recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que a cepa já é responsável por 60% dos casos no último mês e que as curvas de transmissão de países como Canadá e Reino Unido, que têm coberturas vacinais semelhantes às do Brasil, caíram depois de um mês, o que tem levado especialistas a projetarem, apesar da alta transmissibilidade, a diminuição de casos no final de fevereiro.
Mas enquanto os números não caem, as empresas ligadas ao turismo já sinalizam que estão em alerta e enfrentando algumas dificuldades. “Nós já fomos impactados com muitas remarcações e até cancelamentos, uma vez que os viajantes não podem (e nem devem) embarcar pelas positivações que estão ocorrendo”, diz Rodrigo Rodrigues, diretor Comercial da Schultz Operadora. Por outro lado, o executivo complementa que, a exemplo do que ocorreu no mercado internacional, a empresa já trabalha com expectativa de retomada a partir de fevereiro e na janela de um mês prevista pelos especialistas. “É o que esperamos. Mais do que isso. É o que precisamos para que os viajantes voltem a ter confiança no planejamento de suas viagens”, reforça.
Também a indústria hoteleira segue em alerta. "Já estamos sentindo o impacto, ainda que ele seja muito menor do que aquele que assistimos em março de 2020. Tivemos alguns adiamentos e até cancelamentos de reservas na área de eventos e o modelo híbrido volta a ser uma alternativa para dar continuidade às agendas - neste sentido, inclusive, estamos avaliando readequar parte de nossas salas em formato de estúdios de transmissão, o que fizemos no passado para atender nossos clientes corporativos”, afirma Fernando Kanbara, gerente-geral do hotel Grand Mercure Curitiba Rayon.
Já para o diretor de desenvolvimento de novos negócios da Livá Hotéis e Entretenimento, uma operadora independente na gestão de empreendimentos multipropriedade, João Cazeiro, esse segmento ainda não foi impactado "Nós trabalhamos com proprietários, que fazem, em sua maioria o turismo regional e se locomovem por rodovias”.
Cazeiro diz que em Caldas Novas (GO), por exemplo, as chuvas de Minas Gerais, de onde vem grande parte do público deste destino, causaram mais cancelamentos do que os casos da COVID-19. Ele acredita que o aumento de casos positivos não deve mudar os planos de expansão da empresa.
Também em tom positivo e de confiança, Thais Del Ben, gerente de Marketing da WTM Latin America, maior e mais importante feira de negócios do turismo da América Latina, que será realizada entre 5 e 7 de abril, em São Paulo, fala sobre a alta demanda de viagens do momento. “Não minimizamos os riscos e precisamos ficar alertas aos cuidados e todos os protocolos e exigências sanitárias, mas confiamos que a indústria do turismo esteja preparada. Se as previsões confirmarem e a variante perder a força, os profissionais de turismo estarão ainda mais confiantes, e a WTM Latin America chega no momento certo para ajudar essas empresas a se conectarem, reconectarem e criarem novos produtos e soluções. Além disso, juntos e com todo esse gás que estamos, traremos a mágica de volta aos eventos e à indústria de viagens”.
“Apesar da preocupação de executivos de várias indústrias, da necessidade de acompanhamento, atenção e cautela, entendemos que a variante ômicron desacelerou o crescimento econômico em muitos setores, de modo geral, mas de uma forma, felizmente, não tão grave”, diz Luiz Deocleio Fiore, consultor de negócios e sócio-proprietário da OnBehalf, empresa de auditoria e consultoria especializada em reestruturação empresarial e recuperação judicial.
E é na contramão das empresas atingidas nestes primeiros 15 dias do ano que está a Atrio Hotel Managment, especializada no desenvolvimento, implantação e operação de hotéis, com cerca de 70 empreendimentos administrados no País. “Não tivemos impacto. Na verdade, tivemos a nossa melhor primeira quinzena de janeiro dos últimos 10 anos, resultado estimulado pelo segmento de lazer, que começou em dezembro e segue estendido. Tivemos, claro, cancelamentos, mas eles não são expressivos. Em números absolutos, eles somam quase 2.000 noites canceladas, o que representa cerca de 1% de nosso volume mensal. Claro, estamos atentos e temos certeza de que serão recuperadas rapidamente”, diz César Nunes, vice-presidente de Vendas e Marketing da empresa.
O executivo reforça que, embora tímido, o segmento corporativo vem compondo, cada vez mais, o mix oferecido pela empresa. “Estamos com uma alta demanda de orçamentos para grupos e eventos nestes próximos dois meses”, finaliza Nunes
Postado por Angela Karam no dia 21/01/2022 às 10:47